Antologia - em seu significado original - designa uma coleção de flores. Uma palavra venusiana por si só. Apaixonante de raiz. Antologia pode também significar uma coleção de poesias, textos, contos. E, por que não, uma coletânea de paixões? E, por que não, uma coletânea de paixões dentro de uma paixão? Poderia a vida ser uma grande paixão onde acontecem muitas paixões e em cada paixão, outras tantas? Para Vênus, se não for pra ser assim, não vale a pena. Na verdade, se não for assim, simplesmente não é; paixão e existência não andam juntas, são sinônimas.
Vênus possui dois domicílios: Libra e Touro. A Vênus libriana precisa de um outro a quem dirigir todo o seu amor - declara; cria o caminho apaixonado. A Vênus taurina caminha o caminho criado. Percorre fisicamente, carnalmente. Vive a paixão que foi desenhada.
Shakira tem a Vênus a 0° de Áries (o início do início do amor), na casa de Peixes, chegando no ascendente (o início do início do amor no início da vida). Escreveu Antología aos 17 anos. Uma canção que retrata a paixão vista de fora - em Áries, bem longe de casa - mas completamente entregue ao romance (a casa 12 é uma segunda casa para Vênus). O clichê que ultrapassa o clichê justamente porque o revela antes de virar clichê. O amor antes do amor.
Antología
Para te amar Preciso de um motivo
O início de uma paixão talvez seja um ponto. Um ponto que vai se transformando em traço conforme é atraído por um outro ponto. Um magnetismo sem explicação aparente, uma vontade de estar perto. Seria a paixão o espelho da origem da vida? Um modo de experimentarmos o início do início de tudo em nossa escala humana? E é difícil acreditar Que não exista outro além deste amor
O amor pelo amor. Essa é a Vênus libriana traçando um caminho ainda não experimentado, sem prova alguma de que dará certo ou de que levará a algum lugar específico. Seria então - a paixão - um caminho que eu mesma traço, porém só consigo enxergar com clareza quando uma outra pessoa espelha pra mim?
Sobra tanto Dentro do meu coração
Quando o outro não corresponde exatamente ao que planejamos, sobra pra nós. Sobra pra gente trilhar aquele caminho imaginado. Talvez aqui paixões verdadeiras se distingam de paixões platônicas: paixões platônicas abrem caminhos que se esvaem; paixões verdadeiras abrem caminhos possíveis de serem trilhados. E embora digam que os anos são sábios Ainda é possível sentir a dor
Seriam as paixões, de certo modo, insuperáveis? E a dor se deve ao fato de tentarmos apagar de dentro de nós uma rota que talvez precise apenas ser recalculada ao invés de deletada? O platônico pode então ser transformado em real.
Porque todo o tempo que passei ao seu lado Deixou seu fio costurado dentro de mim
A vênus taurina, quando vive o caminho imaginado pela vênus libriana - ou seja, quando vive a paixão - permite que o caminho exista na realidade, de fato, e seja ajustado conforme as nossas necessidades. O outro, sendo o espelho que refletiu a possibilidade desse caminho, naturalmente deixará suas marcas: um caminho aberto por uma paixão é um resultado, um fruto.
E aprendi a tirar os segundos do tempo Você me fez enxergar o céu ainda mais profundo
Seriam as paixões atualizações da própria vida?
Ao seu lado, acho que engordei mais de três quilos Com aquele monte de beijos doces que você me deu
A paixão é algo completamente nosso, vai demonstrar o modo como animamos tudo a nossa volta: gostos, preferências, favoritismos. Se apaixonar é abrir pro mundo como gostamos de percorrer o nosso caminho.
Você aprimorou o meu sentido do olfato E foi por você que eu aprendi a gostar de gatos
Paixões vividas afloram, aguçam, desvendam, revelam, amadurecem. Será possível amadurecer sem viver uma paixão? Você tirou o cimento dos meus sapatos Para que nós dois escapássemos voando um instante
Paixões nos dão asas. Talvez nos libertem mais do que conseguimos conceber. São metamorfoses.
Mas você se esqueceu de uma última instrução Porque ainda não sei como viver sem o seu amor Talvez o x da questão de uma paixão seja conseguir entender qual a possibilidade real de vivenciar o amor existente entre eu e a outra pessoa. Desse modo, não há necessidade de viver sem o amor do outro. Apenas é preciso encontrar o lugar certo de contatar esse amor na realidade; e se não encontramos, criamos. Sendo o amor pura energia de criação, sendo as paixões doses concentradas de amor, seriam as paixões não correspondidas uma oportunidade de recriar a vida inteira? Seriam as paixões correspondidas uma oportunidade de gerar uma nova vida?
E descobri o que significa uma rosa Você me ensinou a dizer mentiras piedosas Para poder te ver em horas não adequadas E substituir palavras por olhares Seriam os jogos de sedução labirintos que criamos para que o outro se sinta instigado a descobrir o nosso modo de criar e queira experimentá-lo? E o sexo um ato de criação em si? E o erotismo a diversão de criar? E o êxtase o prazer em criar? E o amor o próprio criar?
E foi por sua causa que escrevi mais de cem músicas E até perdoei os seus erros E conheci mais de mil formas de beijar E foi por sua causa que descobri o que é amar O brilho venusiano existe sem o outro, mas só pode ser reconhecido com o auxílio do outro. É instigado pelo outro. Revelado! (Mais de cem músicas?! Poderia uma carreira ser fruto de uma paixão?) É possível amar a si mesmo sem antes amar a um outro? É possível verdadeiramente amar o outro sem amar a si mesmo? Quantas vezes na vida é possível descobrir o que é amar? Para Vênus, infinitas.
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